e quando a saudade bater.

-e a tal página 25?
-sinto que está cada vez mais perto.
-também não era pra menos, o que esperávamos afinal?
-o de sempre né? é o que sempre acontece.
-ainda bem que eu nem lembro dessa época.
-nem eu.
-ufa.

Andando rente ao meio fio,
poças de lama em seu caminho,
aquele barulho ensurdecedor das plantas crescendo.
as coisas que lhe fugiam a mente
as memórias que esvaíam-se.
ah! quantas memórias...
se ao menos pudesse resguardar uma delas.
todo aquele barulho atrapalhava.
tudo atrapalhava; as cores, os relevos
aqueles pássaros fofoqueiros.
aqueles ratos traiçoeiros.
procurava nas entranhas de seu corpo
alguma coisa que valesse todo aquele esforço.
o estardalhaço denovo.
sem perceber, era ele que o impedia de esquecer daquilo tudo.
era estardalhaço tudo que lhe faltava.
o que mais se afastava,
o que se privara de sentir
estava ali, como sempre estivera
crescia agora como louca para florescer.
se mostrara parte vital de sua essência
parte com a qual não queria mais se ver sem,
que agora reza para que nunca cesse.

E isso tudo foi acontecer assim
de supetão, um estouro, uma explosão
uma enxurrada de tudo que se pode imaginar
em cima de mim, me senti até claustrofóbico
cansado, eufórico, norteado.
Acostumei-me;
Era pra diminuir, não?
Ao invés disso, expande-se
e não em cima de mim, tanto quanto de dentro pra fora
arregaçando o tecido
estourando as veias
destroçando as tripas
desintegrando as artérias.



hipocrisia dizer que não agrada.

monólogo.

-dependendo até consiga
-consiga o quê?
-ué, aquilo.
-aquilo o quê?
-você sabe...
-sei?
-aquilo, rapaz!
-realmente não está ajudando...
-é que você não está procurando direito.
que tal a página 25?
-a pagina 25? tem certeza?
-ainda não, mas quem sabe mais tarde.
-ah sim, provavelmente mais tarde.

faces;

digníssimo!
realmente se comportou muito bem,
em meio a todos, mostrou-se decente e educado.
era o mesmo sempre, ao mesmo tempo totalmente diferente.
imagino se já se perguntou sobre como consegue mudar assim;
involutáriamente muda de pessoa pra pessoa, adapta-se a seus modos.
mas tudo muda quando se encontra sozinho e não sabe mais o que é e o que fazer,
não sabe com quem mais verdadeiro se fez.
foi com seu melhor amigo
ou com o padeiro da esquina?







realmente digníssimo...

tarde.

comprou o pão
saiu da loja
pegou o ônibus
chegou em casa
se foi denovo
comeu o pão
bem, só a metade
dividiu a outra
pegou o metrô
e se foi.


e depois de um dia,lembrou que não lembrava de nada.

foda-se, o gato comeu.

e a gente percebe que tem algum problema quando
sair de uma comunidade chamada 'eu adoro unicórnios'
se torna uma desculpa para criar um cenário dramático
no qual a comunidade não tem culpa se eu já não acho mais graça;
é triste mas chega uma hora na vida de cada pessoa em que essas coisas não te satisfazem mais e não se fazem necessárias para seu dia-a-dia.

preciso de um som
uma nota, um tom
que me afaste de tudo
de tudo que acalma

preciso de um som
uma nota, um tom
que além de tudo
mesmo miúdo
que todo descuido
carregue na alma

preciso de um som
uma nota, um tom
que me deixe mudo
mudo, desnudo
um breve zumbido
eloqüente e enrustido
um grito calado
um pedaço esquecido.

projeção astral.

eram tantas crianças

e aquele corcunda

simpático

convidou para brincar

pena eu tinha que ir ao médico

aquele urso polar que atacou a livraria

era dele eu sei

até salvou todos

me entregou o urso

tudo isso depois de atravessar a rua

quando eu voltei um policial o matou

e eu com o urso polar na mão

matou? não sei

só lembro chorar intensamente.